Estamos na meia estação. Paletas de cores, tons terrosos, animal print, piede de poule, calça clochard, saia midi ou mini, tiaras estilo turbante, bolsa almofada, meia na altura da canela… O mundo das tendências nos invade a cada nova estação e, com ela, o desejo de consumo entra por todos os canais a que temos acesso. Somos “tragados” para ideia que só estaremos bonitas e aceitáveis se estivermos “na moda”.
Segundo o dicionário, tendência é uma inclinação ou preferência por determinadas coisas ou a fazer determinadas coisas. O termo é muito usado como sinônimo de moda, como uma espécie de mecanismo social que regula a escolha das pessoas. Lembro que li uma vez o trecho de uma matéria, no site da Vogue Brasil para o verão de 2019, a seguinte frase: “Bem-vindo ao verão 2019, em que uma mudança em direção à feminilidade empoderada está definindo a agenda da moda”
Confesso que ao terminar a leitura parei e pensei: qual é a nossa relação particular com a moda e qual é a relação da moda com a feminilidade empoderada? Sempre que levantamos a bandeira do empoderamento feminino temos em mente sua gênese e seu conceito básico que se refere ao ato de conceder o poder de participação social às mulheres, cuja ação consiste no posicionamento feminino em todos os campos sociais, políticos e econômicos, participação em debates públicos e poder de decisão. Bingo! Poder de decisão.
Você já parou para pensar por que será que gritamos por nosso direito de decidir as questões sociais e do mundo e algumas vezes nos sentimos reféns e acuadas pelo fato de não cabermos nessa ou naquela tendência típica da estação? Para mim existe um enorme contrassenso aí. Não estou aqui como alguém que é contra a moda, muito pelo contrário. Eu conheço esse universo de perto e sei o quão fascinante ele pode ser, e o é. Mas também sei o quanto esse mesmo universo que existe aos montes em nossas redes sociais, nas páginas das lojas que mais gostamos de seguir, que invade nossas casas e mentes também pode causar frustração e dor sendo bastante cruel com quem não se encaixa naquele quadradinho do bolso ilimitado ou da imagem perfeita onde tudo cai bem.
Então, até acho válido, para qualquer estação, o direcionamento à feminilidade empoderada. Desde que ele seja pessoal, inspirador, inclusivo e libertador. Que continuemos acompanhando as revistas, as tendências, as passarelas, o prêt-à-porter, a alta costura ou fast fashion se assim quisermos, mas que tenhamos, sobretudo, atitude para sermos quem somos e usar o que gostamos independente do bombardeio que chega aos nossos olhos todos os dias. Como qualquer outro setor, a moda é um lindo e glamoroso universo que, apesar da imensa luz dos holofotes e flashes, carrega um lado muito sombrio também. Que saibamos optar, escolher e impor a nossa luz, a nossa tendência pessoal, a nossa assinatura e que a imagem seja menos artifício para mostrar o que não somos e mais expressão genuína do que verdadeiramente somos. Fica a dica!
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