O nosso painel cultural nordestino é muito diversificado, boa parte fruto da miscigenação entre os nativos que chamamos de índios, os portugueses que aqui chegaram no ano de 1500 e africanos que foram trazidos e aqui se tornaram a mão de obra que movimentou a economia nos primeiros séculos da formação do Brasil.
A soma dessas identidades são a matéria prima do nosso diversificado modo de ser.

Foto Divulgação
Entre muitos personagens históricos, tenho um trabalho de pesquisa há 3 décadas: padre Cícero, Virgulino Lampião e Luiz Gonzaga. E não é que eles criaram moda, no sentido figurinistas? É o que veremos agora!
Quando tornou-se sacerdote em 1870, o jovem padre diariamente era visto na sua batina preta, vestuário complementado com o famoso chapéu ao qual alguns atribuíam poderes mágicos! No discurso sobre moral direcionado para as mulheres, surgiu a figura das beatas – ainda muito presentes em todo o interior do nordeste – até os dias de hoje, 150 anos depois da ordenação dele. O detalhe: beatas usam vestidos pretos, assim como o padre só usava batina preta, hábito pessoal mesmo depois da sua excomunhão. Identidade visual muito valorizada na moda atual, estilo Black Power Fashion.

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Sobre o cangaço, temos filme e fotografias que mostram o intrépido Lampião como artesão do couro e manuseando com muita habilidade máquinas de costura, linhas e agulhas, cosendo brim azul e dando um toque pessoal único no figurino das caatingas. Extremamente vaidoso, em cada dedo um anel, e o colorido dos bornais, desenhados e bordados por Dadá, a estilista esposa do Corisco, compadre do Lampião.
Falando em couro, hoje presença marcante no mundo da moda universal, foi algo compreendido pelo sertanejo Luiz Gonzaga, que conviveu com o referido artigo na sua juventude rural e adotou como vestuário quando subiu aos principais palcos do Brasil, – desde os anos 40 – usando gibão e chapéu de couro, legítimos, bordados com capricho e oriundos das mãos de grandes mestres artesãos coureiros, como se denominam.

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Seja na batina preta do padre Cícero, no brim azul e bornais coloridos do Lampião ou ainda na marca do couro do gibão Gonzagueano, é o nordeste mostrando ao mundo a nossa capacidade de sobreviver na adversidade, e mais ainda criar moda de valor reconhecido no mundo e nos principais estúdios e ateliês.
Viva a cultura, viva a nossa gente nordestina!
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