A crise das queimadas na Amazônia, que de repente tornou-se o mais importante problema do mundo, tem visivelmente dois lados.
O primeiro, o fato real. Os governos brasileiros, nunca, jamais, em tempo algum conseguiram implantar uma política sustentável, justa e equilibrada para lidar com a mata e suas populações. As ações governamentais, sempre deixaram a desejar. E ganharam reforço extra na retórica ecológica inadequada e diplomaticamente provocativa do atual governo.
O outro lado: a soma desses fatores serviram de justificativa para a rápida, certeira e eficiente armação, visando a transformar o País no maior vilão internacional do momento. Um movimento que nada tem de inocente. Uma enorme e maquiavélica armação visando atender aos mais excusos interesses das grandes potências.
É absolutamente falsa a afirmativa de que a Amazônia é o “pulmão do mundo”, desde a própria floresta consome o oxigênio que produz. Argumento fajuto, utilizado por quem não tem a menor autoridade para tal. Por países e governantes que não cuidaram das próprias reservas naturais. Que não têm política de reflorestamento. E, principalmente, não controlam a emissão de gás carbônico, o maior responsável pelo aquecimento global.
A verdade é que a floresta amazônica constitui a mais rica e diversificada reserva da biodiversidade de todo o planeta. Guarda em segredo preciosidades já descobertas e exploradas clandestinamente que, reduzidas a quilo, têm valor centenas de vezes superior ao quilo de ouro. Esse é o ponto fundamental.
A floresta atrai vorazes interesses do capitalismo internacional, sequioso pela exploração dos exclusivos e preciosos recursos naturais. Além disso, serve de simpática bandeira no xadrez da geopolítica internacional.
É isso que está por trás do alarmismo oportunista da mídia internacional. Existem fogo e fumaça, sem dúvida. Mas nada que justifique o carnaval de entidades ambientalistas e principalmente ONGs enfiadas no coração da floresta, sempre muito suspeitas. E muito menos o ardor repentino de líderes em busca de uma causa como tábua de salvação, caso explícito do presidente da França.
Por trás de todo esse teatro está o projeto de internacionalização da Amazônia. Antigo sonho neo colonialista.
Tomo emprestado o raciocínio impecável de Cristovam Buarque. Sou a favor da internacionalização de tudo o que pertence à humanidade e interessa à sobrevivência do planeta. Começando pelo arsenal atômico. Prosseguindo pelas reservas de petróleo (e a política para sua utilização). Avançando com todas as reservas minerais e florestais (as maiores do mundo estão na Rússia, muito maiores que a Amazônia). E claro, internacionalizar o patrimônio artístico e os museus, e as cidades patrimônio da humanidade. Como Olinda. E também Paris, Roma, Londres, Moscou, Pequim e tantas outras. Sem esquecer de incluir Nova York, onde se situa a ONU, a entidade que, devidamente reformada e democratizada, é ideal para administrar um mundo internacionalizado.
Enquanto isso não acontecer, desculpem. Bem ou mal cuidada, a Amazônia continua nossa. E cada líder do G7, cuide primeiro do seu telhado de vidro.
José Nivaldo Junior
Publicitário e historiador.
Da Academia Pernambucana de Letras.
Foto: Foto: Lula Sampaio/AFP
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